A precariedade do serviço e as péssimas condições de trabalho, aliados à falta de profissionais, levou um grupo de 30 ortopedistas a se unirem em busca de soluções para a grave situação que vivem diariamente pacientes e médicos das unidades de pronto atendimento em Belo Horizonte.
Como se não bastasse a falta do serviço em quatro UPAs, as que têm atendimento de ortopedia contam com apenas um médico da especialidade por plantão.Por dia são cerca de 60 atendimentos.
O ortopedista da UPA Leste, Miller Gomes de Assis, conta que, apesar da estrutura continuar a mesma, os casos de trauma praticamente dobraram nos últimos anos, devido ao grande número de acidentes de trânsito, envolvendo principalmente motociclistas, à violência e ao aumento crescente da população.
Segundo os ortopedistas a situação está insustentável ““Chegou a hora de pedir socorro, gritar e lutar pela qualidade de atendimento aos nossos pacientes e por fim à calamitosa situação que chegamos. Não é mais sustentável atender a toda a demanda existente com a qualidade que a população merece dentro da estrutura que existe hoje”, diz Miller Assis.
Além da qualidade do serviço, os ortopedistas estão cada vez mais preocupados com os casos de violência na UPAs, colocando em risco a vida de todos que estão ali tentando trabalhar: “A população está revoltada com o descaso existente e nós médicos ortopedistas mais ainda, pois toda sobrecarga de trabalho e revolta do povo vem recaindo sobre nós”, afirma.
Movimento já dura quase um ano
A luta dos ortopedistas não começou agora. O movimento teve início em junho do ano passado, quando os profissionais de ortopedia das UPAs, preocupados com precariedade e sobrecarga de atendimento, resolveram se unir. Na troca de informações ficou claro que os problemas eram comuns a todas as UPAs. A partir do levantamento realizado, os ortopedistas elaboraram um documento apontando soluções. O relatório será entregue aos gestores, entidades médicas e Ministério Público.
“Procuramos o sindicato para nos apoiar no movimento e fomos recebidos de braços abertos. Tivemos e estamos tendo total apoio e suporte que se faz necessário para enfrentar essa grande batalha que travamos pelo melhor atendimento a população. Sabemos de nossa responsabilidade não somente no atendimento à população, mas também na busca incessante pela melhor qualidade”, diz.
No documento, os ortopedistas das Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) da PBH denunciam a gravidade da situação e reivindicam, entre outros itens.
1. – Equipe de Ortopedia formada por dois médicos, nos dois turnos (diurno e noturno).
2. – Equipe de Ortopedia em TODAS as UPA’s. Tal medida visa minimizar o deslocamento dos pacientes, com distribuição mais racional entre as unidades de atendimento.
3. – Quando não houver ortopedista na unidade de saúde, encaminhar os pacientes à unidade mais próxima, justificando, ainda mais, a solicitação anterior. O fato de pacientes ficarem na unidade esperando atendimento até o outro turno de plantão gera insatisfação dos usuários, o que compromete o trabalho do profissional que assume o plantão com inúmeras fichas e tem que “dar” conta do atendimento correspondente a dois turnos.
4. – Criação de um cadastro de profissionais para cobertura de férias/licenças e faltas. Atualmente essa cobertura, quando realizada, só pode ser feita por profissionais da mesma unidade, inviabilizando reposições.
5. – Criação de um fluxo de encaminhamento de pacientes que necessitam de atendimento ortopédico, mas que não preenchem critério de atendimento na URGÊNCIA.
6. – Definição de um local de referência para pacientes que iniciaram tratamento em outros municípios, que procuram acompanhamento nas UPA’s.
7. – Regulamentação do fluxo de encaminhamentos para a Ortopedia.
8. – Criação de uma Comissão Permanente da Ortopedia, com intuito de supervisionar, fiscalizar e coordenar os trabalhos dos profissionais das unidades, em conjunto com os gestores.