O sucateamento da rede de atenção e a exposição sistemática focada quase exclusivamente em falhas, dramas e conflitos que nela ocorrem, como se o Sistema Único de Saúde (SUS) fosse a materialização do purgatório e as pessoas que nelas trabalham e que as frequentam os agentes do caos e atrações de um circo de horrores são o rastilho de pólvora que leva à explosão da violência.
Se não omissas, as autoridades, se mostram pouco empenhadas em solucionar, ou sequer mitigar o problema. A segurança existente nas unidades de saúde consiste basicamente em vigilância patrimonial e a interação entre os profissionais da saúde com os da Segurança Pública – todos levados aos limites de sua capacidade física e emocional – torna-se delicada.
A direção do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF) tem reiteradamente pedido atenção à segurança nos hospitais públicos de Brasília. Diante da postura reticente de sucessivos gestores, recentemente o presidente Gutemberg Fialho se reuniu com o chefe da Casa Militar do DF, Cel. Cláudio Ribas de Sousa, e com diretor da Polícia Civil, Eric Seba de Castro, discutindo a insegurança nas unidades de saúde.
O sindicato também protocolizou, há dois meses, pedido de audiência com o secretário de Segurança Pública e da Paz Social, Arthur Trindade, que está pendente, segundo a SSP, porque a Secretaria de Saúde pediu que fosse uma audiência conjunta e nunca se manifestou pela realização do diálogo.
Governos e gestores da Saúde Pública têm assumido posições pautados pela mídia, com foco nas situações pontuais e não nos problemas sistêmicos crônicos. O cenário é perigoso, pois as agressões e transgressões se tornam banais nas diversas formas que se apresentam, inclusive na desídia do governo em relação aos trabalhadores da saúde e aos usuários do SUS. “A violência explode e dá lugar à marginalidade quando a autoridade e o cuidado do Estado não são manifestos. E a sensação da população e dos profissionais de saúde, infelizmente, é de abandono”, critica o presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho.
O atentado que colocou em risco não só a vida de um suposto marginal, mas de internos, acompanhantes e trabalhadores do HRG passa por mais uma banalidade cotidiana e se torna até motivo de piada. Em um dos maiores potais de notícia da cidade, a reportagem recebeu, entre dezenas de comentários, salvas excessões que se podem contar nos dedos, as declarações são do tipo “KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK, errou os 10 tiros? que anta!!!!!”
Há tempos, tragédias se anunciam diariamente à porta de cada uma das unidades de emergência do DF. Cabe ao Estado evitar que elas se concretizem. No entanto, não há sequer menção do ocorrido nas páingas eletrônicas da agência de notícias do governo ou da Secretaria de Saúde. O Governo de Brasília simplesmente se cala e ignora o absurdo. Espera-se que não seja necessário alguém ser assassinado dentro de um hospital para que as autoridades tomem providências.
“Cobram dos médicos e demais profissionais de saúde uma postura de sacerdotes, mas nos jogam em campos de batalha. Cobram-nos humanização no atendimento quando, da mesma forma que os pacientes, somos brutalizados”, destaca Gutemberg. Enquanto contdições adversas levam pacientes, profissionais da saúde e agentes da lei a conflitos em vez de alianças, vândalos e bandidos encontram um palco para levar a morte e a baderna aonde, apesar de todas as mazelas, seres humanos buscam e trabalham pela cura.