RS: sindicato define ações para segurança em postos da Capital

Pouco mais de um mês depois da explosão de violência no Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), zona sul de Porto Alegre, as primeiras medidas para elevar a segurança em serviços de saúde da Capital começam a ser definidas pelo grupo de trabalho (GT) proposto pelo Sindicato Médico do RS (SIMERS). Em 25 de setembro, tiroteio entre traficantes transformou o postão em um ambiente de guerra. No começo da manhã desta terça-feira (3), um novo caso de violência em estabelecimentos de saúde elevou o nível de alarme e necessidade de medidas. Um ataque de assaltantes levou pânico ao Hospital Divina Providência. Um dos criminosos foi baleado e morreu.

As ações do GT abrangem desde instalação de sistemas de alerta nos locais para comunicação entre os postos e Guarda Municipal e Brigada Militar até a integração das câmeras de videomonitoramento sob gestão do município e as da Segurança Pública do Estado. O GT já discute um conjunto de ações. Entre elas, está sendo preparada a integração dos sistemas municipal e estadual de videomonitoramento.

Também tornar operacional os chamados botões de pânicos, existentes nas unidades de saúde. Apenas 70% dos postos têm o dispositivo, mas os equipamentos não funcionam. A prefeitura informou que está providenciando compra de programas e equipamentos. O SIMERS também cobra o aumento do efetivo da Guarda Municipal. São 497 homens, mas 160 são do efetivo operacional e estão armados. Concurso para selecionar mais integrantes prevê apenas 10 vagas.

Violência crescente
Os registros de ocorrências em locais de atendimento elevou o alerta. Em 2014, foram 14 casos no Estado, oito em Porto Alegre. Este ano foram 28 (incluindo o recente no Divina Providência) até o começo de novembro, 21 somente na Capital — aumento de 162,5%.

A disputa entre criminosos da região sul de Porto Alegre resultou em morte, feridos, ônibus incendiados, invasão e coação aos profissionais do postão. O SIMERS pediu, poucos dias após a violência, a interdição ética, devido à falta de segurança. “A questão da violência é a que mais expulsa os médicos da rede pública. Eles estão sendo expulsos do SUS devido a estas condições adversas”, alertou o presidente do SIMERS, Paulo de Argollo Mendes.

Argollo se reuniu com autoridades da Segurança Estadual (comando da pasta da área e Brigada Militar) e defendeu a presença da BM nos locais. Desde o começo do segundo semestre deste ano, o SIMERS intensifica a pressão nos órgãos públicos cobrando medidas de segurança. A ação da entidade já ocorre há quase dez anos. No dia 28 de julho, o presidente do SIMERS se reuniu com o comandante- geral da BM, coronel Alfeu Freitas, intensificando canais de comunicação entre os trabalhadores da saúde e o efetivo militar de cada região.

Desse contato, resultou a criação de um GT. Na primeira reunião, ficou definido que a BM iria fornecer os nomes dos seis comandantes regionais da Capital e números dos celulares funcionais. Guarda Municipal e Secretaria de Segurança Pública também seriam convidados a compor a iniciativa. Após a ocorrência no PACS, Argollo se reuniu com o Secretário de Segurança Pública, Wantuir Jacini, para cobrar medidas imediatas. A agenda resultou na montagem de um Grupo de Trabalho com participação de todos os organismos, como BM e Guarda Municipal.

Medidas começam a ser definidas
No GT, o Sindicato tem cobrado ainda o aumento do efetivo da Guarda Municipal. O comando do órgão informou que atualmente a unidade possui 497 homens, porém, apenas 160 são do efetivo operacional (armados) e informou ainda que a maioria tem mais mais de 50 anos e está prestes a se aposentar. Os responsáveis pela Guarda admitiram que o quadro é insuficiente para atender a demanda de Porto Alegre. O efetivo teria se ser reforçado em pelo menos 1,5 mil guardas.

Um edital para concurso público está em andamento para o preenchimento de apenas 10 vagas. O SIMERS questionou o número de postos, considerado extremamente insuficiente. O comando respondeu que o concurso prevê o número de vagas , mas nada impede que mais aprovados sejam chamados. O SIMERS também já protocolou um ofício na Secretaria Municipal da Saúde, cobrando o aumento do efetivo da Guarda Municipal para atender as áreas de postos.

O Sindicato cobra a utilização do botão do pânico nos estabelecimentos de saúde. Das 141 unidades de saúde, apenas 70% possuem o sistema. Mas o mais grave é que os botões não funcionam por motivos técnicos. A prefeitura já licitou a compra de novos softwares e equipamentos e prometeu regularizar a situação até janeiro de 2016. O SIMERS reforça a urgência nessas medidas, pois os mecanismos permitem, em casos de violência, a chamada mais rápida da Guarda. O botão dispara direto na Central de Operações da GM, que, imediatamente, pode enviar uma viatura mais próxima ou mesmo chamar a BM.

O SIMERS também cobrou que as câmeras de videomonitoramento sob a responsabilidade da Guarda e EPTC sejam estendidas aos postos de saúde. A medida poderá ser efetivada, segundo a Guarda. O SIMERS já solicitou reunião com o prefeito José Fortunati para cobrar que os locais de estabelecimento mais propensos à violência tenham câmeras com espelhamento no DCCI (Departamento de Comando e Controle Integrado) da SSP.

No Postão da Cruzeiro, por exemplo, há câmeras internas (saguão) e externas monitoradas pelo CEIC ( Centro Integrado de Comando) do município e pela Central de Operações da Guarda Municipal. As outras câmeras internas são monitoradas por empresa privada. Atualmente, não há espelhamento desses equipamentos no DCCI da SSP. A medida será possível por um convênio de parceria entre essas unidades que está sendo providenciado.

>> Ações propostas pelo SIMERS ao GT para garantir segurança na saúde:
(1) Presença permanente da Brigada Militar nas proximidades das unidades: como nos estádios de futebol, que recebem policiamento, os postos são locais de aglomeração com potencial de conflito, devido aos ânimos exaltados.
(2) Criação de Grupo de Trabalho com a Secretaria Estadual de Segurança Pública: parceria visa a buscar alternativas para que o atendimento de saúde se dê em condições mais seguras. Em andamento.
(3) Instalação de câmeras externas 360º no entorno das unidades de saúde: prefeituras de Porto Alegre e demais cidades com histórico de violência em postos devem garantir o videomonitoramento, com espelhamento no Centro Integrado de Comando da BM e SSP. Em andamento.
(4) Instalação de câmeras internas nas unidades de saúde: os locais de atendimento devem ter monitoramento com gravação permanente, para identificar eventuais agressores. O Sindicato entende que o anonimato estimula o comportamento violento.
(5) Estudo para adequação das unidades visando à segurança: muitos postos são improvisados em prédio já existentes, não pensados para o atendimento de saúde. As prefeituras devem revisar as estruturas físicas com vista à segurança, evitando invasões e facilitando a saída em caso de emergência.