Médicos da Santa Casa de Campo Grande emitiram carta aberta à população sul-mato-grossense, como forma de protesto, devido ao dramático histórico de descaso que o corpo clínico do hospital vem sofrendo nos últimos anos.
Confira na íntegra:
Os Médicos do Corpo Clínico da Santa Casa de Campo Grande vêm a público manifestar insatisfação com a atual conjuntura em que vive o maior hospital prestador de serviço do Sistema Único de Saúde, em Mato Grosso do Sul.
Há anos, e mesmo com um aporte de verbas públicas cada vez maior, a gestão do hospital encontra dificuldade em honrar os contratos com as diversas especialidades médicas que compõem o competentíssimo Corpo Clínico da Instituição. Esses especialistas possuem um papel essencial, são a engrenagem para a manutenção da qualidade e da assistência aos pacientes, sempre prezando pela ética e as boas práticas.
Não é de hoje que o hospital enfrenta tais adversidades e a atual gestão tem contribuído para que tais problemas se acentuem como, escassez de materiais, dificuldade na realização de exames, aparelhos sem manutenção com iminente chance de danos, dificuldade no agendamento de cirurgias eletivas. Enfim, são problemas que ao nosso ver, estão cada vez mais longe de serem solucionados, tornaram-se utopia.
Vale ressaltar também, as diversas demissões ocorridas no ano de 2017, onde cerca de 14 excelentes médicos foram desligados do hospital de maneira arbitrária. Na época, a gestão da Santa Casa já alegava passar por crise financeira, portanto como era possível realizar tantas demissões? Como poderia uma instituição encalacrada em dívidas pagar em indenizações, legalmente previstas, mais de um milhão de reais? São questões sobre as quais ponderamos diariamente e não obtemos respostas. Ao contrário, quem questiona recebe como resposta, retaliações imediatas.
É notável o distanciamento entre a atual gestão e o Corpo Clínico, o que dificulta ainda mais a participação dos médicos nas decisões estratégicas para a obtenção dos resultados operacionais que a instituição sonha em ter.
Mesmo sendo um hospital privado, cabe a sociedade civil organizada e aos gestores públicos uma ampla discussão sobre essa crise, pois o hospital conta com um grande aporte de verbas públicas em seu faturamento mensal e não sabemos onde este dinheiro é investido, não há uma transparência financeira quanto à aplicação dos recursos recebidos pelo SUS.
A direção da Associação Beneficente de Campo Grande – Santa Casa, tem deixado de lado sua marca “centenário de solidariedade”, preocupando-se apenas com os interesses capitalistas, submetendo-nos a um ambiente de insegurança, desânimo e que em breve, irá refletir de forma direta no atendimento prestado à sociedade, pois estamos cada vez mais desmotivados, acuados, como não poderia deixar de ser.
O atraso salarial dos médicos da Santa Casa é um problema crônico longe de ser sanado. Há anos os gestores do hospital não conseguem manter o compromisso básico de manter em dia o salário dos funcionários. Não há justificativa plausível para a persistência de tal situação, não convém atribuir a responsabilidade às entidades governamentais, pois a relação de trabalho é entre hospital e médicos. Portanto medidas devem ser tomadas para evitar o descumprimento das obrigações trabalhistas.
Corpo Clínico da Santa Casa