A falta de políticas públicas de saúde para o diagnóstico de câncer coloca a doença como a segunda causa de morte no Brasil, podendo até mesmo superar os dados de doenças cardiovasculares, como infarto e AVC. A previsão do Observatório de Oncologia, da Associação Brasileira de Leucemia e Linfoma (Abrale), é de que sem prevenção, detecção e tratamento adequados, o câncer se tornará, em 2029, a principal causa de mortalidade no Brasil.
A ausência de uma estrutura adequada prejudica a população ao excluir a chance de um diagnóstico precoce e aumentando os índices de mortalidade. Um estudo do Instituto Nacional do Câncer (INCA) aponta dados alarmantes, como a ocorrência de aproximadamente 600 mil novos casos de câncer entre 2016 e 2017.
A desinformação, associada aos escassos programas de prevenção, contribui para tornar o câncer ainda mais agressivo em grande parte dos casos. O presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), Robson Moura, garante que só a prevenção poderá reduzir os dados de óbitos pela doença no país. “Hoje não existe na saúde pública um sistema organizado para a prevenção, a rede não facilita o diagnóstico precoce e as campanhas, como Outubro Rosa, Novembro Azul e outras, são idealizadas apenas por organizações do terceiro setor”, afirma.
Para o representante da SBC, a correta orientação não chega à uma importante parcela da população. Embora todas as mulheres acima de 45 anos devam fazer o exame de mamografia, bem como todos os homens com mais de 40 anos devem realizar o exame de próstata, nem sempre essas pessoas têm a devida instrução sobre a importância dos testes ou até mesmo acesso. Outro problema apontado por Moura é que muitos pacientes coletam suas amostras, mas não buscam os resultados.
Estes e outros fatores capazes de resultar em um diagnóstico tardio, podem significar um tratamento ainda mais agressivo do que o habitual ou cuidados paliativos – quando são tomadas medidas para amenizar os impactos do câncer. “A prevenção passa por uma avaliação anual. Por exemplo, a mulher que tem o hábito de ir, pelo menos uma vez ao ano, no seu ginecologista terá mais chances de identificar sintomas da doença”, explica.
Diagnóstico tardio: os tipos de câncer mais frequentes
De acordo com o presidente da SBC, a maior frequência de diagnóstico tardio ocorre com tipos de câncer com localização menos acessível e com sintomas menos evidentes nos estágios iniciais, como pâncreas, pulmões e esôfago. Até mesmo o câncer de mama pode demorar a ser descoberto se os exames periódicos não forem realizados. O câncer de colo de útero, tipo que exige avaliação anual, mata uma mulher a cada 90 minutos no Brasil, segundo o INCA.
Os casos de câncer descobertos tardiamente também colocam o médico em posição delicada. “O médico é treinado para a cura, então é difícil quando nos deparamos com um câncer em que não há mais o que fazer. É preciso conversar claramente, informar e oferecer as melhores alterativas, bem como garantir um acompanhamento com manejo integral do paciente”, diz Moura.
Quem procura cura
O médico oncologista e pesquisador do Hospital do Câncer Mãe de Deus, Stephen Stefani, corrobora ao informar a importância do conhecimento sobre o histórico do paciente, aliado à literatura médica. “É fundamental saber quais exames devem ser feitos, como uma colonoscopia na idade ideal, por exemplo. Até mesmo um exame de sangue com alguma modificação pode sugerir que seja feita uma maior investigação. É frustrante saber que um paciente perdeu a chance de ter um tratamento menos invasivo ou a possibilidade de cura porque não buscou um exame, não o fez ou não se deu conta dos sintomas”, revela.
Eles venceram o câncer
Relembre a história dos jovens João e Cristiane e suas trajetórias de enfrentamento e vitória sobre o câncer contadas pelo SIMERS:
Não foi o câncer que insistiu em aparecer quatro vezes, nem a amputação de uma perna, nem a cirurgia que removeu metade do pulmão esquerdo que tiraram a força do jovem goiano João Carlos Rodovalho Costa, 32. Mas foi também com a ajuda dos médicos que lhe acompanham desde 2001 que ele conseguiu superar todas essas adversidades e ter conquistado feitos importantes.
Com um diagnóstico de câncer, aos quase 9 anos de idade, Cristiane Ferreira foi informada de que teria pouco tempo de vida – apenas quatro meses, pouco tempo para qualquer pessoa, especialmente para uma criança que almejava crescer, conhecer lugares e tudo que a trajetória nesse mundo permite vivenciar.